sexta-feira, 21 de março de 2014

Alento para a logística do Pará

A presidente Dilma Rousseff, hoje em visita ao Pará, vai lançar na cidade de Marabá o edital de licitação do projeto de derrocamento do Pedral do Lourenço. Trata-se de uma obra de caráter estratégico para dar sustentação ao processo de desenvolvimento econômico e social do Estado.
O derrocamento prevê a retirada de um grande volume de pedras que, num trecho de aproximadamente 43 km, entre as cidades de Marabá e Tucuruí, tornam muito difícil e perigosa, quando não impossível, a navegação no rio Tocantins durante os meses mais secos do ano. Com a execução do projeto, deverá ser aberto nesse trecho um canal de navegação com 145 metros de largura, por onde passarão no futuro as embarcações de carga geral e os comboios carregados de grãos, produzidos na própria região ou oriundos do Centro-Oeste do Brasil.
Com o derrocamento das formações rochosas, batizadas com o nome de “Pedral do Lourenço”, em homenagem a um antigo habitante da região, a hidrovia do rio Tocantins deixará de ser uma abstração, como tem sido até hoje, para enfim tornar-se realidade. Assim, a movimentação de cargas, a partir de Marabá, tenderá a ganhar grande impulso nos próximos anos. Basta dizer que se tem hoje na região a perspectiva de um aumento, já nos próximos cinco anos, da movimentação de carga pelo rio Tocantins para cerca de 10 milhões de toneladas anuais. E isso, notem bem, somente com o transporte de grãos, especialmente soja e milho.
O derrocamento do Pedral do Lourenço, porém, vai muito além. Trata-se de uma obra estruturante, de formidável repercussão futura sobre a economia do Pará e da Região Centro-Oeste do Brasil. Quando concluído, o projeto vai dotar o município de Marabá de uma plataforma multimodal com características que a tornam quase única no Brasil. Além do corredor hidroviário, com acesso direto ao porto de Vila do Conde e ao Oceano Atlântico, pelo rio Amazonas, a cidade – e toda a região localizada em sua área de influência direta – poderá ainda dispor do modal ferroviário da Estrada de Ferro Carajás.
Há muito mais, porém. Marabá já é hoje o principal entroncamento rodoviário do Pará. A ela pode-se ter acesso por uma grande rodovia estadual, a PA-150, e por quatro federais, a BR-155, na continuidade da PA-150, a Transamazônica, a BR-222 e, por meio desta, a partir de Dom Eliseu, a BR-010 (Belém/Brasília). A cidade é servida também por uma razoável cobertura de transporte aéreo, recebendo em seu aeroporto jatos de grande porte e a operação de uma variada frota de aeronaves pequenas e médias que fazem a interligação com outras cidades da região.
Pode-se dizer, por isso, que o projeto a ser lançado hoje pela presidente Dilma não é uma linha de chegada, mas um ponto de partida. Não uma obra cuja importância se esgote em si mesma, mas uma porta que se abre para o ingresso de novos investimentos, para a atração de novos empreendimentos. Sem o derrocamento do rio Tocantins, não se tem verdadeiramente hidrovia, as eclusas de Tucuruí permanecem inúteis e ociosas e não há condições objetivas para o desenvolvimento econômico.
Com o derrocamento e a consequente operacionalidade da hidrovia do Tocantins, ganha não somente a cidade de Marabá, mas ganha o Pará e ganha também o Brasil. Com uma cadeia logística moderna e eficiente, estará criada ali a condição necessária para a efetiva verticalização da produção mineral paraense, tendo como ponto de partida um grande complexo siderúrgico e no seu desdobramento o tão sonhado polo metal mecânico do sul e sudeste do Pará.
A hidrovia do Tocantins como um todo, aliás, deve ser vista desde já – e é esta a visão de empresários e investidores – como um florescente nicho de negócios. Às suas margens, beneficiando por igual todas as cidades situadas ao longo dos cerca de 500 km do traçado até o porto de Vila do Conde, deverão brotar incontáveis oportunidades em todas as áreas. Entre elas, a indústria naval, a agroindústria e o setor de serviços.
A multimodalidade da estrutura de transportes na região tenderá também a dar substância a outros dois grandes dois projetos estratégicos para o Estado: a extensão da Ferrovia Norte Sul até Vila do Conde e, no futuro, até o litoral paraense, na altura de Curuçá. Nesta cidade, em frente à ilha da Tijoca, deverá ser construído também o Porto do Espadarte, que será o maior terminal marítimo do norte do Brasil.
Investir no Pará, pois, é investir no Brasil.
Helder Barbalho - Presidente da FAMEP-Federação das Associações de Municípios do Estado do Pará.